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Explicando a dominância do brasileira: Como um país chegou ao topo do Rainbow Six Siege

2021 foi dominado por times brasileiros. Aqui está o que aconteceu, com suas próprias palavras.

Image via Ubisoft

O ano de 2021 no Rainbow Six foi completamente marcado pelo verde amarelo do Brasil. Pela primeira vez na história um Major e um Six Invitational foram vencidos pela região Latam.

O sucesso recente veio das mais diversas formas, com diferentes jogadores sendo determinantes para cada título internacional. Em 2021 o Brasil teve 10 jogadores diferentes vencendo EVP’s nos Majors e Invitational, além de 3 SiegeGG Event Prêmio de MVP. O poder de fogo brasileiro, independente do time, foi dominante no ano passado.  

Para entendermos os motivos por trás dessa completa dominância brasileira, entrevistamos jogadores e treinadores que fizeram parte desse vitorioso 2021. 

Crescimento

De acordo com Matheus “Budega” Figueiredo, ex-treinador da MIBR, o processo de construção e crescimento que desencadeou no sucesso brasileiro em 2021 começou em 2019, um ano antes do início da pandemia.

“O ano de 2019 foi muito crucial para o Rainbow Six brasileiro (...) pois houve a entrada de muitos jogadores importantes, que hoje são os melhores do mundo.”

Para o ex-técnico, 2019 marcou o início de uma revolução no cenário brasileiro. A entrada de Murilo “Muzi” Moscatelli, Gabriel “Pino” Fernandes e Luccas “Paluh” Molina no final de 2018 marcava o começo de uma era de sucesso.

Nos primórdios de 2019, houve uma grande revolução na capacidade tática brasileira. “O counter tático, o mid round” foram duas novidades, segundo Budega. “Esse estilo de jogo a gente trouxe da G2 Esports (...) a gente pegou o jeito europeu e Norte Americano de jogar e deu uma abrasileirada”.

A partir de então a atual MIBR, ex-Team oNe, junto aos Ninjas In Pyjamas trouxeram essa aproximação mais agressiva, adaptativa, sempre com intuito de impor seu estilo de jogo. Por outro lado, uma das potências da Latam, a Team Liquid, jogava de maneira completamente diferente.

“A Liquid joga um estilo de jogo 'parede', onde eles se defendem até o final e esperam o adversário cometer o maior número de erros possíveis”, Budega afirma. Com esses dois principais “jeitos” de jogar a região Latam foi se consolidando, isso gerou uma grande mescla no cenário brasileiro com Liquid, Faze, MIBR, Furia, Team oNe e NiP.

Foi assim, com essas duas principais formas de jogar muito bem consolidadas: um mais agressivo e adaptativo, e outro mais defensivo, esperando o erro do adversário, que o Brasil cresceu. “Esses dois estilos ficaram bem definidos com muitos times, diferente da Europa e do NA, onde há poucos times com estilo de jogo definido, no Brasil temos 6,7 equipes com estilo de jogo definido”.

A Pandemia 

Com toda essa supremacia brasileira em 2021, logo após um ano de hiatus, a pergunta que não quer calar, “O que houve no Brasil durante a pandemia?”.

O Covid-19 e a impossibilidade da disputa de campeonatos em LAN ajudou os times brasileiros a consolidarem uma estrutura e um estilo de jogo próprio. Marlon “Twister” Mello, treinador da Furia, relatou-nos isso. “Acredito que o tempo de pandemia e falta de campeonatos internacionais apenas fechou todas as regiões dentro de si mesmas, e a que mostrou mais evolução interna, se aproveitando da situação foi a brasileira.”

Entretanto, por mais que vendo de fora pareça que tudo começou durante a pandemia, os primeiros sinais de esperança iniciaram-se antes disso. Para lembrarmos disso, vale ressaltar os dois últimos campeonatos antes da pandemia, Pro League Season 10 Finals e o Six Invitational 2020. Desde estes campeonatos o Brasil já apresentava um “nível apresentável” de jogo, como comenta Marcus “Sneepy” Matos - destaque do Tier 2 brasileiro. Porém, no Japão, com ambos os times brasileiros com desfalques por causa de problemas com visto, o desempenho deixou a desejar.

A quebra de paradigma veio de verdade nos Invitationals de 2020 e 2021, no qual a NiP foi vice e campeã, respectivamente. Ambos eventos serviram como amostra da força que o Brasil viria a se tornar e deram a todos da região esperança de um futuro melhor.

Os Ninjas In Pyjamas mostraram ao mundo indícios de uma dominância durante sua impressionante campanha pela lower bracket no Six Invitational de 2020. Tal como Budega descreveu, a NiP trouxe uma evolução do estilo de jogo da G2. A surpreendente campanha de azarão, que se encerrou na Grande Final, era somente a ponta do iceberg.

A vitória da NiP no Invitational de 2021 fez com que outros times brasileiros se espelhassem neles. Os ninjas fizeram o meta da região evoluir, gerando um completo crescimento brasileiro. “Eu dou os créditos da melhora da região brasileira para NiP”, completou Karl “Alem4o” Zarth, superestrela da Team oNe.

 “O que mais influenciou foi o fato da NiP ter batido na trave em 2020, isso demonstrou a todos os brasileiros que é possível chegar lá“, comentou Gabriel “Ask” Santos, promessa da Team Liquid.

O pioneirismo da NiP foi fundamental para evolução da região brasileira, como destacam os entrevistados. A pandemia, por sua vez, teve importância em consolidar uma estrutura e um estilo de jogo brasileiro, já que as regiões se encontravam isoladas.

No entanto, é possível supor que a pandemia tenha somente diminuído o que seria mais um ano de dominância brasileira internacional em 2020. “A pandemia cortou o sucesso dos times brasileiros na época, eu acho que logo depois (do Invitational 2020) a gente teria a Liquid, MIBR, NiP muito bem se tivéssemos em LAN”, completa Budega. 

Jovens Estrelas 

O sucesso do Brasil está também relacionado com sua capacidade de renovação das lineups e ser deveras hóspito aos jovens jogadores. A favorabilidade do ambiente aos players mais novos possui relação com alguns fatores, como o tier 2 forte, a FPL bastante ativa e a mescla dos jovens com as antigas estrelas, pilares do cenário.

A segunda divisão do Rainbow Six brasileiro é conhecidamente uma das melhores do mundo. Sua força é exemplificada com a quantidade de jovens, ótimos jogadores, que saem de lá. Rennan “R4re” Silva, Ask, Pablo “Resetz” Oliveira, Caio “Neskin” Szazi, Juliano “Levy” Andrade, Eduardo “KDS” Santos, Thiago “Lenda” Torres, todos grandes nomes do Tier 1, vieram dos mais diversos lugares do Tier 2.

Nossos entrevistados comentaram sobre a força do Tier 2 brasileiro e os motivos desse poder na segunda divisão do país. “Acredito que o Tier 2 brasileiro seja esmagadoramente o mais forte do mundo. Lá os jovens talentos já são levemente podados e o ambiente como nós chamamos aqui é a “Selva” onde os mais fortes “sobrevivem” e com isso se destacam” - Arthur “TchubZ” Figueira, técnico da Team oNe.

O ambiente extremamente competitivo do tier 2 funciona semelhante à Teoria da Evolução de Darwin, na qual os organismos mais bem adaptados têm maior chance de sobrevivência. Ser capaz de se destacar na “Selva” brasileira, significa que você possui uma maior chance de sobreviver e competir contra os melhores da região.

“A melhora realmente do Tier 2 do Rainbow Six é devido a força de vontade de querer ser alguém e buscar um sonho com baixas condições, isso motiva mais ainda a rapaziada a correr atrás” - Sneepy, Guidance Gaming.

“Com certeza, nosso Tier 2 é fortíssimo comparado às outras regiões, isso tem a ver com o Meta brasileiro ser mais avançado que o lá de fora. Com certeza isso promove um desenvolvimento da região muito rápido, já que todos treinos são super produtivos” - Alem4o, Team oNe.

Além desses, também temos as estrelas que nem chegaram a disputar de fato a Série B do principal campeonato brasileiro. Todos os nomes a seguir sequer passaram pelo tier 2 brasileiro, por causa de um cenário de menores de idade extremamente talentoso e forte. Jogadores como Alem4o, Muzi, Diogo “Fntzy” Lima, Enzo “Rappz” Aziz, Felipe “Felipox” De Lucia, Lorenzo “Lagonis” Volpi já eram conhecidos antes de completarem 18 anos e logo foram para grandes times do Tier 1 nacional.

 

Alem4o nos contou um pouco sobre esse processo, “Tudo começou com a nossa line sendo a primeira line kid a conseguir reconhecimento dos grandes profissionais da época. Eu, Felipox, Kurtz, Rappz e Lagonis na “gs”, com o passar do tempo os players do Tier 1 aprenderam que os novos talentos tem espaço no competitivo (...) todos os kids dessa época já treinavam contra os times do Tier 1, daí que vem o reconhecimento.” 

FPL Brasil

Por mais que seja um fator secundário, a FPL, muito utilizada no Brasil, tem certa utilidade. Essa “ferramenta” de organização de partidas faz com que haja uma interação entre os jogadores Tier 1, 2 e 3 ajudando a manter um nível mínimo de qualidade entre as diferentes camadas do Rainbow Six nacional.

“A fpl é boa pra manter o nível do Tier 2/1.5 alto, acho que a repetição de certas estratégias default nesse modo de jogo ajuda os players a evoluírem”, disse Alem4o. Além disso, a FPL ajuda na exposição de um jogador. Um jovem habilidoso, porém desconhecido de um time Tier 2 pode começar a interagir e fazer contatos com os melhores jogadores da Série A, que também participam dessa liga.

“Só de entrar na FPL já é algo bom, pois você está ao lado dos melhores e se você joga tryhard, dando call bonitinho, aprendendo, explicando o porquê você fez tal play você fica com uma visibilidade boa”, afirmou Ask.

“Acredito que a FPL pode ser tipo uma vitrine para jogadores, acredito que para jogadores que sabem utilizar essa oportunidade pode se dar muito bem”, comentou Sneepy.

A entrada de jovens no cenário de Rainbow Six ocorreu de maneira muito orgânica ao longo dos anos, como afirma Twister, “A entrada desses novos jogadores foi um passo natural para o desenvolvimento do cenário”.

A entrada de jovens promessas ocorreu diversas vezes nos mais diversos times ao decorrer dos anos. Ressalta-se a entrada destes jovens nos times já mais consolidados, misturando-se com as grandes estrelas. Lucas “soulz1” Schinke, da Team Singularity para MIBR; Muzi e Pino logo após fazerem 18 anos para a NiP; Ask da Team oNe academy para Liquid; Resetz da Black Dragons para Liquid; Paluh da Bootkamp Gaming para Liquid, entre outros exemplos.

Todos estes casos, ilustram uma das práticas que o Brasil utilizou para se tornar a potência que é no Rainbow Six atualmente. A mistura entre as estrelas, pilares do cenário, junto a jovens promessas, com uma enorme volúpia de ter sucesso no jogo. NiP, Liquid e Faze, possivelmente os três melhores times no Brasil, fizeram uso dessa estratégia, rendendo-lhes muitas glórias. “Acredito que esse é um ponto fundamental no nosso cenário, pois se você junta a experiência de jogadores experientes com o talentos dos novos você consegue aumentar o potencial desses jovens talentos da nossa região” - Ask, Liquid.

“Eu acredito que assim como em qualquer departamento uma boa combinação de experiência e “força bruta” são necessários para o sucesso de um time” - Twister, Furia. 

Dança das cadeiras 2021

Um dos mais importantes marcos do Rainbow Six brasileiro em 2021 foi a dança das cadeiras, logo no início do ano. Uma grande mudança ocorreu no cenário, criando novos times e trazendo muito sangue novo.

Por muito tempo o cenário brasileiro se resumia a somente três times de calibre internacional: Liquid, Faze e NiP - porém isso mudou. Em 2018 outro grande time surgia, a Team oNe, atual lineup da MIBR, se transformando na grande ameaça aos três times mais tradicionais do Brasil.

Entretanto, 2021 foi ano que de fato marcou uma enorme crescente no nível de competitividade no Brasil, com 6 seis times de calibre internacional. Faze, NiP, Liquid, Team oNe, MIBR e Furia todos chamaram atenção até certa medida durante o ano.

A dança das cadeiras no início do ano foi responsável pela criação da nova lineup da Team oNe, campeã do Major México. Uma vez que seus jogadores tinham sido comprados pela MIBR, que por sua vez, tinham sido comprados pela Faze. Outra drástica mudança ocorreu com a Furia, com a adição de Fntzy e R4re. Logo após ter escapado do rebaixamento no Brasileirão, a organização brasileira adicionou dois jovens talentos que mudaram completamente o rumo do time. Da batalha contra o rebaixamento em 2020, para o Top 8 no Major México em 2021. “Acho que a grande melhora veio devido a constante mudança dos jogadores buscando cada vez mais renovar a busca pelo topo, acredito sim que um dos pontos principais foi a dança das cadeiras buscando novos talentos”, disse Sneepy.

"As mudanças na janela de transferência (...) formou novas potências que fizeram com que a região saísse de 3 grandes times e outros que nunca disputavam nada para 6 grandes times disputando a cada campeonato.” - Twister, Furia.

Comunidade, Streaming e RazaH

O crescimento exponencial do Brasil como potência no Rainbow Six é resultado de uma multiplicidade de fatores, que vão além da performance dos times em si. A comunidade brasileira, já muito conhecida no mundo dos esports por ser muito emotiva e passional, demonstra também todo seu amor pelo Rainbow Six.

Em meio a toda instabilidade do jogo a comunidade, independentemente, ainda conseguiu se manter forte. Um dos grandes responsáveis pela união e manutenção da comunidade brasileira é o streamer Rafael “RazaH” Ribeiro, o mais assistido streamer da Twitch por diversos meses em 2021. Um dos melhores quando se trata de Rainbow Six.

Além de jogar, o criador de conteúdo ainda transmite a FPL Brasil, expondo os jogadores fora dos campeonatos oficiais. Outra produção característica do streamer é a transmissão (sem imagens) dos campeonatos de Rainbow Six.

RazaH consegue de forma única aproximar o cenário competitivo, os jogadores, com a comunidade. Sua amizade com os jogadores permite que seu telespectador veja facetas diferentes e mais próximas de seus maiores ídolos. “RazaH é um fenômeno sem sombra de dúvidas, atribuo a ele uma maior parcela de responsabilidade em manter o cenário estável” - Tchubz, Team oNe.

O streamer é responsável por unir a comunidade e aproximá-la de uma realidade muitas vezes tão distante, um contato mais próximo e íntimo com os players. RazaH, sem dúvida, é um dos grandes responsáveis pela saúde e força da comunidade brasileira. “O RazaH é um dos maiores pilares da comunidade do Rainbow Six do Brasil (...) quando ele fala com o “povo” ele fala na linguagem da galera, não uma linguagem formal” - Sneepy, Guidance Gaming.

Sua interação com o cenário competitivo é o que o diferencia dos outros streamers. Atualmente RazaH talvez seja o único streamer com esse tipo de conteúdo exclusivo com números um número relevante de espectadores. “Podíamos ter mais streamers igual a ele, mas é muito difícil, o RazaH é único”, disse Alem4o.

Razah também desempenha um papel crucial trazendo visibilidade para o jogo, o streamer é capaz de criar conteúdo com Rainbox Six das mais diversas maneiras e para o mais diverso público.

A dominância brasileira em 2021 não foi por acaso, como afirma Budega: “Em 2021 todo mundo já estava muito bem estruturado e com a filosofia de jogo bem definida, então (2021) foi só a supremacia acontecendo após um período de três anos”

Todo sucesso brasileiro em 2021 não veio por acaso, vai desde os jogadores, comissão técnica, filosofia de jogo até a comunidade apaixonada que tem sua forma de expressão no maior streamer de Rainbow Six, RazaH.

Todos os diversos fatores citados, juntos, tiveram papel fundamental na construção e no crescimento do Brasil como a principal região do Rainbow Six. Uma região que durante muito tempo foi menosprezada e vista como “sem tática, só bala” mostrou o resultado de um trabalho de anos em 2021, vencendo todos os campeonatos internacionais. 

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